Pandemia, guerras, acidentes e tragédias são alguns dos assuntos que mais cercam as hard news – as notícias importantes. Dentro das redações, existem muitas reportagens que são mais leves, sobre comemorações e grandes eventos, por exemplo, mas também existem aquelas que nem sempre são as mais legais de se fazer a cobertura.
E essa mistura de assuntos e acontecimentos, será que pode, de certa forma, afetar a saúde psicológica dos profissionais da comunicação?
Para a repórter da editoria de Cotidiano do Jornal Folha de S. Paulo, Patrícia Pasquini, que atua como jornalista desde o final da década de 1990, essa mistura de assuntos e acontecimentos é algo que sempre cerca o profissional, e toda essa complexidade nunca foi motivo de preocupação para ela e nem pretexto para desistir da profissão. “A gente lida com pressão no dia a dia, prazos curtos e a necessidade de ser perfeita, mas isso nunca mexeu com o meu psicológico. Acho que você acaba se acostumando; acredito que, como em qualquer área, o importante é que você tenha o pique que a sua profissão exige”, afirma.
Já o psicólogo e especialista em orientação vocacional e profissional Gleidson Martins explica que, em longo prazo, alguns jornalistas possam desenvolver algum grau de ansiedade, principalmente pelo fato de que esses profissionais sempre precisam ficar atentos a tudo o que está acontecendo no momento. “É importante salientar que nem todos os problemas psicológicos e sociais poderão ser classificados como doença, visto que podem ser considerados ‘reações normais’ diante de uma situação ‘anormal’”, explica.
A jornalista acredita que ter um hobby é uma ótima alternativa para aliviar o estresse diário. “Quando acabo meu trabalho do dia, vejo novela, vídeos de humor, coisas banais e que me façam rir. O fato de estarmos em isolamento social, e eu respeito muito isso, dificulta bastante não poder sair e encontrar com os amigos. Precisamos nos reinventar e nos cercar de coisas que nos façam relaxar”, conta Patrícia.
Covid-19: a hard news do momento
A pandemia da Covid-19, que começou em dezembro de 2019, na China, é um dos grandes acontecimentos para boa parte dos jornalistas. Para a repórter da Folha, essa é a cobertura mais difícil que teve até hoje. “Eu acho que nenhum jornalista da minha geração teve uma experiência mais difícil que essa”, diz.
As notícias sobre os desdobramentos são chocantes para muitas pessoas, principalmente quando são noticiados os números de infectados e mortos que crescem de maneira absurda a cada 24 horas. De certa forma, os jornalistas estão na linha de frente com os profissionais da saúde; enquanto médicos e enfermeiros fazem o possível para salvar vidas, o jornalista precisa informar a população sobre os novos acontecimentos e maneiras de prevenção da doença.
O psicólogo acredita que existem maneiras de prevenir as doenças psicológicas e, principalmente, a Síndrome de Burnout, um transtorno psicológico que pode afetar diversos profissionais que trabalham intensamente ou sob pressão. “A prevenção continua sendo uma das melhores estratégias na busca da melhoria da qualidade de vida no trabalho. Sendo assim, é importante que o indivíduo reconheça seus limites e compreenda que não é um super herói. Reforce seus laços de amizade, priorize um sono de qualidade, demonstre suas fragilidades, curta momentos em família, pratique atividade física, mantenha uma alimentação saudável, e, por último, mas não menos importante, procure ajuda especializada”, orienta Martins.