Por Lilian Mallagoli

Desde 2013, somos home office aqui na Ventura – ela foi fundada para operar nesse formato. No começo, era só eu, mas com o tempo as atividades se expandiram, e hoje somos em mais de uma dúzia de mulheres que acordam todos os dias sabendo que é preciso organizar agenda e espaço físico para que casa e trabalho não se choquem, mas atuem em harmonia.

Com a pandemia da covid-19, milhões (bilhões, talvez) de pessoas em todo o mundo migraram para esse formato, e o que percebo é gente dando cabeçada sobretudo por não assimilar o conceito. Trabalhar de casa não é sobre encaixar a sua rotina domiciliar no seu trabalho – na verdade, é ao contrário. É preciso ajustar o seu trabalho na sua rotina e no seu ambiente, mas de forma que os dois lados sejam respeitados.

É essencial ter um local adequado para trabalhar, uma boa mesa, uma cadeira que não prejudique sua postura com o passar do tempo, um ambiente silencioso e, claro, as ferramentas e infraestrutura necessárias – uma boa internet é essencial. Esse cenário já ajuda a separar o que é “home” do que é “office”.

Mas o que percebo é muita gente acreditando que conseguirá assistir à Sessão da Tarde enquanto responde os emails. Tarefas ignoradas, respostas arrastadas e reuniões sem profissionalismo viram rotina. É como se, pelo fato de se estar em casa, responsabilidades, desafios e problemas não fossem mais da sua conta. Há nove anos em home office, garanto: é totalmente o contrário!

De volta pro escritório

Essa inaptidão das pessoas vai obrigar muitas empresas a manter o trabalho presencial, mesmo sem haver a necessidade.

Abrir mão do escritório ou de parte dele significa redução de custos com aluguel, pessoal de apoio e infraestrutura. Ou seja, se a empresa tem uma atividade que permite o trabalho à distância, ela vai ganhar com o formato.

Mas ela perde quando as pessoas não assumem a maturidade desse desenho – sim, eu posso sair pra hidratar o cabelo ou fazer mercado às 14h, a escolha acaba sendo minha. Mas não posso atrasar entregas, deixar pessoas falando sozinhas ou fingir que não é comigo. Quanto mais você se impõe profissionalmente trabalhando de casa, assume as responsabilidades, se propõe a corrigir erros e abraça o trabalho em equipe à distância, mais você mostra que sim, está pronto para esse formato.

E você ganha qualidade de vida, claro: acabam as horas perdidas no trânsito ou no transporte público lotado. Você curte sua casa, e passa a cuidar mais do ambiente, deixá-lo mais agradável, porque vai passar o dia todo nele.

Ninguém é obrigado a gostar ou defender o home office, não é isso. Mas quem gosta da ideia e quer mantê-la, precisa também entender os limites: se por um lado, não devemos trabalhar das 6h às 22h e deixar que nossas funções tomem conta da vida pessoal e familiar, por outro não podemos ignorar o fato de que é trabalho, sim – não é passatempo e não se faz apenas quando dá vontade.

Em home office, meia furada até passa – mas, desculpa furada, não.

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